Por que existe um paradoxo de tolerância e compreensão?
As pessoas geralmente se apegam a um conjunto de opiniões, como se confiassem que essas opiniões acabariam gerando retornos ao serem geralmente percebidas como justas no final. Mas com que finalidade? O poder específico de se sentir o possuidor de uma verdade é um mal menor, comparado a outras possibilidades de lucro em fama, dinheiro e outros fins que não estão no reino das próprias ideias.
Um exemplo: algumas igrejas no Brasil ganharam proteção legal para tornar aceitável manter longe de seus cultos e edifícios a recente opinião humanista de abraçar a homossexualidade.
Além do ponto inicial de que essa mesma lei parece ilegal se você tiver em mente todas as leis recentes contra o preconceito de minorias, há, por outro lado, o ponto de vista padrão, de que edifícios que se rotulam como religiosos tenham o direito de decidir quem e de que maneira eles, como instituições, devam e possam receber seus fiéis e convidados — contra aqueles que eles simplesmente não queiram receber, em defesa à sua tradição e visões.
Bem, contra todo tipo de “portadores da verdade”, é quase certo aparecerem postulantes contrários na recém-criada lacuna dicotômica. Mais particularmente, parece-me quase impossível lutar contra pontos de vista que sejam fortemente baseados apenas em emoção, com qualquer defesa que não suporte escrutínio em bases lógicas simples, porque, no final, mostra-se uma questão de dogma.
Não sou um pensador antirreligioso, mas talvez possa ser entendido como antirreligioso, porque há esse forte viés no meu pensamento que sempre me lembra do conceito da “Idade das Trevas”, começando quando a Igreja Católica, em expansão, decidiu confundir a vida religiosa tornando o Dogma o mesmo que o Credo, mantendo a culpa do pecado não importa o que você saiba ou a falta deste conhecimento.
Na verdade, até tenho uma certa tendência para o espectro religioso – sendo, então, contra a simplista “negação de Deus” que por ventura possa ser comum (mas esse seria outro tópico) – e, por acaso, conheço essa diferença.
Credo (ou Querigma) seria a primeira visão, mais simples, colocada lá fora para todos verem e, esperançosamente, entenderem. Dogma seria a revelação chave de Deus (ou da existência) primeiramente apresentada a alguém específico, que geralmente é considerado um importante intermediário (profeta, santo, avatar etc.). então esse profeta sai a gritar e explicar o que é possível, porque ele geralmente passa a conhecer a dificuldade em lidar com a mensagem enviada ao apresentá-la em termos humanos usuais.
Então, voltando à questão dos “portadores da verdade”: Dogma é simplesmente difícil de apresentar e aceitar. Respeito isso e vou além ao me permitir ter empatia por qualquer um que tente transmitir mensagens quando essas ideias estão além da capacidade de defendê-las. Na verdade, estou tentando fazer isso agora, embora eu não argumentaria que isso seja sempre verdadeiro em todos sentidos. Prefiro deixar que cada um tente, leia e decida por si mesmo. Normalmente meu estilo de escrita é tipicamente autista… mas, voltando ao ponto: não se coloca dogmas na cara das pessoas, porque haverá violência.
Em vez disso, é preferível apresentar um credo (no sentido de “eu creio que…”): um bom ponto de entrada para as pessoas se reunirem e construírem algo em comum. Mas talvez esse seja meu dogma e eu deva ficar em silêncio novamente agora.
(…e fiquei por mais de 10 anos.) Post original no Medium (em inglês).
Fonte da distinção Kerigma x Dogma: Karen Armstrong, A History of God.


